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Não foi hoje que a ideia para essa crônica surgiu. Na verdade, o argumento que pretendo explorar vem se apresentando a mim gradativamente ao longo dos últimos nove anos e alguns meses - a saber, o tempo decorrido desde o dia em que adquiri a credencial mais importante da minha vida: uma em que está escrito "Mãe". O que tenho pensado, por quase uma década é que a vida se apresenta em ciclos - com trajetórias maiores ou menores, mais ou menos óbvias, felizes ou nem tanto - movimentos de vida que vão a algum ponto e retornam, trazendo consigo os aprendizados e encantamentos que lhe são próprios. As pessoas surgem e desaparecem, a terra se aproxima do sol e recua, as marés têm sua dança própria, relações são construídas e desfeitas, para daí a um tempo ressurgirem com outra cara, outro sotaque, outras pessoas. A verdade é que a vida dança à nossa frente e deixa conosco alguns sinais de sua coreografia. E nesse bailado, vendo minhas filhas crescerem, cheguei à conclusão de que o amor de mãe acompanha o que passei a chamar de "O Ciclo dos Dentes".
Eu explico.
Quando minha primeira filha nasceu, fiquei apaixonada por ela de uma maneira tão sobrenatural, que gostaria que ela permanecesse daquela forma em que eu a encontrei para todo o sempre. Eu tinha em minhas mãos uma boneca semitransparente, praticamente careca e banguela. Tudo naquela criança era a expressão do meu encantamento. Tudo era novidade e representava a maior perfeição que eu jamais observara. Daí meu desejo de que nada mudasse. E uma noite eu sonhei que a minha pequena sorria para mim com a boca cheia de dentes. Nunca vou conseguir explicar a ninguém, leitor querido, a ira que me acometeu no sonho. Eu queria saber quem era responsável por todos aqueles dentes no meu bebezinho banguela. E queria que a pessoa que inventou tudo aquilo providenciasse a remoção de todos aqueles indícios de que o tempo passaria, mesmo que eu quisesse retê-lo.
E acontece que o tempo, de fato, passou. A parte boa é que, quando os dentinhos de leite lá foram marcando presença no sorriso de minha filha, o encanto só aumentava. Lá estava a mãe babona, exibindo os dentinhos da filha como se fossem o maior troféu do mundo. E eles eram! Aquelas perolazinhas eram a expressão de como o tempo transforma as coisas, as pessoas, os sorrisos e o amor - que naquele caso só fazia crescer.
Durante muito tempo apaixonei-me por aquele sorriso cheio de dentes de leite, pequenos e delicados. Até que foi chegando a época de dar adeus a eles, aceitar a visita da fada do dente e entender que a vida é assim mesmo, cíclica - sempre substituindo algo, levando coisas e trazendo outras em seu lugar. Assim, os dentinhos de leite deram lugar a dentões que pareciam chicletes numa boquinha pequena, num rosto delicado e tremendamente infantil que - valha-me Deus! - está mudando para um rosto de adolescente.
Que maravilha, observar essas mudanças e ver o quanto esse sorriso está ficando parecido com o meu. Sabe, leitor, acho que as mães nunca deixam de procurar traços de si nos filhos. Eles são como espelhos que nos mostram que algo de nós transcende, tapeia o tempo e vai além. O sorriso novo de minha filha me mostra que, sim, a vida muda; e não há nada que possamos fazer, a não ser observar sua beleza. E o que mais poderíamos fazer?
Com minha filha mais nova, o processo já está começando também. As banguelas vão surgindo, trocando meu bebê por uma menina - que vai crescer, viver, amar, cometer seus erros e acertos e que - queira Deus! - terá a oportunidade de contemplar esse mesmo ciclo no rosto infantil e absurdamente terno de filhos gerados em seu ventre.
A vida é assim, não é? Os dias se sucedem, modificam e desenrolam. Os ciclos acontecem. O que existe para ser mostrado sempre aparece. E o que existe para ser memória para lá vai depressa.
Afinal, o amor não é matéria que diminua com o tempo. Não o amor do qual eu estou falando. Esse tipo de amor, você deve saber, leitor querido, é do tipo que só aumenta. Especialmente porque as mudanças trazem coisas novas pelas quais o amor vai sempre se encantar.
Sou feliz por acompanhar esse ciclo virtuoso de mudanças e de vida. Sou grata pela vida que se modifica diante dos meus olhos, acompanhando meus sorrisos e mandando-me beijos lindos e sempre renovados. Porque acho que é disso que o amor se faz. É disso que preciso para viver bem feliz.
Uma excelente noite a todos.
Beijinhos
Fê Coelho
Um espaço para dividir minhas crônicas, outros textos e percepções malucas.
terça-feira, 26 de março de 2013
O Ciclo dos Dentes - um texto sobre amor
Não foi hoje que a ideia para essa crônica surgiu. Na verdade, o argumento que pretendo explorar vem se apresentando a mim gradativamente ao longo dos últimos nove anos e alguns meses - a saber, o tempo decorrido desde o dia em que adquiri a credencial mais importante da minha vida: uma em que está escrito "Mãe". O que tenho pensado, por quase uma década é que a vida se apresenta em ciclos - com trajetórias maiores ou menores, mais ou menos óbvias, felizes ou nem tanto - movimentos de vida que vão a algum ponto e retornam, trazendo consigo os aprendizados e encantamentos que lhe são próprios. As pessoas surgem e desaparecem, a terra se aproxima do sol e recua, as marés têm sua dança própria, relações são construídas e desfeitas, para daí a um tempo ressurgirem com outra cara, outro sotaque, outras pessoas. A verdade é que a vida dança à nossa frente e deixa conosco alguns sinais de sua coreografia. E nesse bailado, vendo minhas filhas crescerem, cheguei à conclusão de que o amor de mãe acompanha o que passei a chamar de "O Ciclo dos Dentes".
Eu explico.
Quando minha primeira filha nasceu, fiquei apaixonada por ela de uma maneira tão sobrenatural, que gostaria que ela permanecesse daquela forma em que eu a encontrei para todo o sempre. Eu tinha em minhas mãos uma boneca semitransparente, praticamente careca e banguela. Tudo naquela criança era a expressão do meu encantamento. Tudo era novidade e representava a maior perfeição que eu jamais observara. Daí meu desejo de que nada mudasse. E uma noite eu sonhei que a minha pequena sorria para mim com a boca cheia de dentes. Nunca vou conseguir explicar a ninguém, leitor querido, a ira que me acometeu no sonho. Eu queria saber quem era responsável por todos aqueles dentes no meu bebezinho banguela. E queria que a pessoa que inventou tudo aquilo providenciasse a remoção de todos aqueles indícios de que o tempo passaria, mesmo que eu quisesse retê-lo.
E acontece que o tempo, de fato, passou. A parte boa é que, quando os dentinhos de leite lá foram marcando presença no sorriso de minha filha, o encanto só aumentava. Lá estava a mãe babona, exibindo os dentinhos da filha como se fossem o maior troféu do mundo. E eles eram! Aquelas perolazinhas eram a expressão de como o tempo transforma as coisas, as pessoas, os sorrisos e o amor - que naquele caso só fazia crescer.
Durante muito tempo apaixonei-me por aquele sorriso cheio de dentes de leite, pequenos e delicados. Até que foi chegando a época de dar adeus a eles, aceitar a visita da fada do dente e entender que a vida é assim mesmo, cíclica - sempre substituindo algo, levando coisas e trazendo outras em seu lugar. Assim, os dentinhos de leite deram lugar a dentões que pareciam chicletes numa boquinha pequena, num rosto delicado e tremendamente infantil que - valha-me Deus! - está mudando para um rosto de adolescente.
Que maravilha, observar essas mudanças e ver o quanto esse sorriso está ficando parecido com o meu. Sabe, leitor, acho que as mães nunca deixam de procurar traços de si nos filhos. Eles são como espelhos que nos mostram que algo de nós transcende, tapeia o tempo e vai além. O sorriso novo de minha filha me mostra que, sim, a vida muda; e não há nada que possamos fazer, a não ser observar sua beleza. E o que mais poderíamos fazer?
Com minha filha mais nova, o processo já está começando também. As banguelas vão surgindo, trocando meu bebê por uma menina - que vai crescer, viver, amar, cometer seus erros e acertos e que - queira Deus! - terá a oportunidade de contemplar esse mesmo ciclo no rosto infantil e absurdamente terno de filhos gerados em seu ventre.
A vida é assim, não é? Os dias se sucedem, modificam e desenrolam. Os ciclos acontecem. O que existe para ser mostrado sempre aparece. E o que existe para ser memória para lá vai depressa.
Afinal, o amor não é matéria que diminua com o tempo. Não o amor do qual eu estou falando. Esse tipo de amor, você deve saber, leitor querido, é do tipo que só aumenta. Especialmente porque as mudanças trazem coisas novas pelas quais o amor vai sempre se encantar.
Sou feliz por acompanhar esse ciclo virtuoso de mudanças e de vida. Sou grata pela vida que se modifica diante dos meus olhos, acompanhando meus sorrisos e mandando-me beijos lindos e sempre renovados. Porque acho que é disso que o amor se faz. É disso que preciso para viver bem feliz.
Uma excelente noite a todos.
Beijinhos
Fê Coelho
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crônicas,
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Quem sou eu
A autora por ela mesma
- Fernanda Coelho
- Uma pessoa muito bem humorada, otimista incorrigível, tentando se encontrar nesse mundo maluco.
Boas vindas.
Seja bem vindo você que vem curioso, que vem interessado ou mesmo desacreditado.
Seja bem vindo você que me lê e descobre-me aos parágrafos.
Aproveita as palavras que encontrar por aqui e fica à vontade: a casa é sua. Só não põe o pé na mesa.
Sejam todos bem vindos.
Beijinhos
Fê
Seja bem vindo você que me lê e descobre-me aos parágrafos.
Aproveita as palavras que encontrar por aqui e fica à vontade: a casa é sua. Só não põe o pé na mesa.
Sejam todos bem vindos.
Beijinhos
Fê
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