quarta-feira, 11 de abril de 2012

Por que não eu?



Preciso de um pseudônimo, de um nome que me abrigue de minha vida, para dar vazão a coisas que eu gostaria de dizer. Preciso de uma outra alcunha à qual emprestar alguns pensamentos  - uns que se sacodem aqui dentro e não param de me perturbar - sobre os quais eu não pretendo escrever. Preciso de um novo nome, que me proteja do olhar conhecido, que me abrigue das opiniões a meu respeito. Procuro um pseudônimo para que, tendo eu escrito, não se faça julgamento de valor a respeito do que tenha motivado o texto. Quero uma personagem - uma criatura escritora que possa dizer o que quer, sem ter que se explicar.

Eu poderia com tranquilidade criar uma tal Soledad Montenegro e fazer com que ela contasse algumas anedotas. Poderia ajudá-la (ou seria o contrário?) a explicar que, a bem da verdade não sentimos falta das pessoas que se vão, mas de nós mesmos enquanto tínhamos o convívio dos que se foram. Soledad falaria sobre algumas angústias e seria toda nostalgia. Por ela, eu poderia atender a uma amiga especial que sempre me pede para escrever sobre o amor e que vem sendo sistematicamente frustrada.

Porque, senhores, não pretendo falar sobre amor - a não ser que seja aquele que  devotamos aos filhos, à família e à vida. O restante desse discurso, não importa o quão inovadores sejam os nossos pensamentos, acaba virando uma pieguice só. Amor é assunto pra conversa informal, de boteco, de noite de meninas ou do que quer que seja. Mas documentar pensamentos a respeito desse tema é fria. Porque, invariavelmente, o que pode ser apenas um conceito, uma ideia sem destinatário, acaba virando um recado. E aí o circo está armado. Nunca se consegue um distanciamento ideal para falar sobre o amor: nem de tempo, nem de espaço, nem de encarnação. Falou de amor, virou indireta. Mesmo que não seja. Então deixemos esse assunto.

Escrever nem sempre é fácil. Aliás, na maioria das vezes não o é. Há uma censura interna digna do A.I.5 que me impede de escrever livremente. O que fulaninha vai pensar? O que cicraninho vai entender? Que juízo de valor farão de mim, após lerem este texto? Porque, convenhamos, é a minha cara que está ali para baterem. Escrever materializa o que as pessoas apenas supunham, confirma ou refuta o que esperavam que você fosse. E sinto muito em dizer: não consigo lidar com essa coisa de arte pela arte. Não sei deixar de me importar. Mas a Maria dos Cascos saberia.

Maria dos Cascos falaria com propriedade sobre gente ruim e poderia até dar alguns exemplos de situações em que essas pessoas se denunciam. Maria dos Cascos poderia reclamar à vontade, eu não. Porque a Maria dos Cascos é livre. Ela não tem parentes, nem amigos, nem emprego, nem  uma carreira para zelar. A Maria, sim, pode fazer arte pela arte de ser intransigente. Eu não.

A Colombina poderia falar de medos. Sophie Lapin falaria de desejo. João Brutão falaria das chatices das mulheres. Tiana Arranca Toco discorreria sobre as frescuras dos homens. Mariazinha do Dente de Leite listaria motivos que a deixam pau da vida com o mundo dos adultos. E todos seriam eu, sem a carga do olhar de quem me conhece.

Claro que é uma bela forma de covardia. Acontece que tenho "licença poética" para isso. O precedente está aberto. Richard Bachman (Stephen King), Brás Patife (Olavo Bilac) e Boas Noites (Machado de Assis) que o digam. Se eles - que não tinham idiotices a dizer - puderam, porque não eu?




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